“Na época, sugeri que os brindes oficiais oferecidos a autoridades estrangeiras fossem com a nossa cachaça em lugar do champanhe francês.”
A imprensa deu grande destaque, no mês passado, à Expocachaça 2004, realizada em Belo Horizonte, na Serraria Souza Pinto. Este festival da cachaça confirmou o crescimento da bebida no mercado nacional e internacional e provou que nossa branquinha pode ser um bom negócio. Sempre tive em mente a defesa da cultura nacional. Quando fui ministro da Cultura, no governo Sarney, lutei contra a discriminação da cachaça, bebida autenticamente brasileira, que era e ainda é relegada pela elite. Da mesma forma, defendi nossas comidas típicas e as bandas de música.
No Sete de Setembro, organizei uma comemoração diferente. Meu pensamento era dar ao Dia da Independência um caráter popular. Então, propus ao presidente e aos governadores dos Estados que, em complementação às paradas militares, se organizassem festas com a participação popular e com alimentos regionais, como a broa de milho e acarajé. Em entrevistas, convoquei a população a participar dos eventos com alegria. Em Brasília, a comemoração foi uma beleza, com a apresentação do Coral da UFMG, do cantor Tom Jobim e de vários artistas. A população lotou a Praça dos Três Poderes.
Na época, sugeri que os brindes oficiais oferecidos a autoridades estrangeiras fossem com a nossa Cachaça em lugar do champanhe francês. Considerava que isto era uma forma de valorização e afirmação da nossa cultura, das nossas raízes. Por estas iniciativas, ganhei de certos jornais do Rio e de São Paulo, os apelidos de “ministro jeca-tatu, ministro da broa de milho, da cachacinha e banda de música”. Mas nossa sugestão deu início à vitória da caninha nacional. Foi com alegria que mais tarde, vi o então presidente Fernando Henrique Cardoso levantar o brinde com um cálice da branquinha em banquete oferecido ao presidente de Portugal.
Gostaria de deixar bem claro que não estou fazendo apologia ao álcool. Estou defendendo um produto nacional tão preterido em favor de bebidas importadas e a alto custo. Como brasileiro, considero importantíssimo o progresso e o prestígio da nossa pinga. Quem foi a Expocachaça ou acompanhou as notícias pela imprensa percebeu como o mercado tem recebido bem o produto. Segundo a imprensa, o evento reuniu cerca de 850 produtores de 18 estados e mais de 900 marcas artesanais, gerando negócios da ordem de R$300 milhões, inclusive exportações.
Aliás, ainda podemos crescer muito neste campo. Dos 1,8 bilhão de litros de cachaça produzidos por ano no Brasil, sendo 70% industrial e 30% artesanal, apenas pouco mais de 1% é exportado. Mesmo assim, em recente viagem à Europa, pude perceber a boa receptividade que a cachaça tem no continente. Em Paris, junto à vodca, o uísque, o vinho, o rum e, claro, o champanhe oferecidos nos cardápios dos restaurantes, encontrei, para orgulho nacional, a cachaça brasileira.
Outro ponto importante é o uso de novas tecnologias na fabricação da cachaça. O Sebrae tem oferecido cursos aos produtores interessados em melhorar a qualidade da branquinha, e aumentar a produtividade. Os produtores estão investindo também na embalagem da bebida, o que não deixa de ser uma forma de atender bem os consumidores mais exigentes, sobretudo do exterior. O fato é que, aos poucos nossa cachaça vai conquistando o seu espaço e agradando aos paladares mais refinados.
Aluísio Pimenta, Professor e membro da Academia Mineira de Letras.
Texto originalmente publicado em: Jornal Diário da Tarde, Caderno Opinião, pag. 02; 14/08/2004