Cachaça e cultura

Considerando como caso especial, no caso das bebidas, a aguardente de cana, a popular cachaça, muito mais utilizada no interior do país, principalmente em Minas Gerais, onde segundo os entendidos se produz a melhor cachaça do Brasil.

Quando exerci o Ministério da Cultura, a convite do presidente José Sarney, com a colaboração de universidades, homens e mulheres do setor cultural, introduzi o conceito de cultura antropológica, segundo o nosso maior vulto da cultura nacional, Fernando de Azevedo, tão bem caracterizado em seu livro a Cultura Brasileira.

Fernando de Azevedo indica, e nos adverte em seu livro: “Uns e outros, da Escola de Antropologia, Cultura e de Oxford e do Museu Americano, abrangem, sob denominação de cultura, todo o “modo de vida social de um povo como um todo”, dando a essa palavra a maior extensão que era susceptível de tomar”.

Ao assumir o Ministério da Cultura, introduzi o conceito de cultura antropológica. Indiquei como assessor, no campo da cozinha, uma mulher muito competente e que nos ajudasse a incluir a culinária como manifestação cultural. Da mesma maneira, indicamos um assessor para a cultura negra, abrindo um amplo diálogo com os negros em todo o país. O tombamento da Serra da Barriga, um dos grandes monumentos contra a perseguição negra, realizamos por representar o local das extraordinárias lutas de Zumbi dos Palmares. Deu-se grande ênfase e apoio à cultura indígena, e da condição de mulher.

É importante relembrar, sempre, que não deixamos de dar pleno apoio a todas as manifestações artísticas, dando grande ênfase às bandas de música, especialmente no interior.

Considerando como caso especial, no caso das bebidas, a aguardente de cana, a popular cachaça, muito mais utilizada no interior do país, principalmente em Minas Gerais, onde segundo os entendidos se produz a melhor cachaça do Brasil.

Quando criança e jovem, no lugarejo onde morávamos, observava as pessoas tomarem um trago de cachaça e jogar uma pequena quantidade para trás. Era a cota do santo.

Tomar cachaça naquela época era considerado vergonhoso para as pessoas de classe média. Estas pessoas não tomavam em público, mas somente em casa.

Depois que vim para Belo Horizonte, para estudar na universidade, aqui permaneci exercendo o magistério. Era convidado para almoços e jantares sociais. Eram servidas bebidas de toda natureza: cerveja de várias marcas, vinhos, licores, vodka, whisky; enfim, bebidas do mundo inteiro.

A cachaça, também denominada branquinha, tomba homem e vários outros apelidos, era praticamente proibida. Visitei meio mundo. Durante os dezessete anos que estive fora do país, em mais de 40 países que visitei, identifiquei, em todos eles, as bebidas e comidas características dos respectivos países.

Por esta razão, quando ministro da Cultura, programando as festividades do Dia da Pátria, o Sete de Setembro, lancei a nossa cachaça como símbolo da bebida nacional.

Incentivei os brasileiros, no programa “Bom dia Brasil”, da TV Globo, a consumir os alimentos como a broa de milho.

Quem fosse consumir alguma bebida alcoólica, desse preferência à cachacinha mineira. Não fazia propaganda para as pessoas utilizarem bebida alcoólica. Ao contrário, a melhor coisa para as pessoas é não utilizar bebida alcoólica.

Lancei também a proposta de substituir o champanhe, nos brindes e jantares oficiais, por um cálice de cachaça. Claro que esta atitude, partindo de um ministro de Estado, lançou a cachaça, que é hoje, uma bebida tão aceita quanto o whisky e outras bebidas estrangeiras – aqui no Brasil e no exterior.

Aluísio Pimenta, Professor e membro da Academia Mineira de Letras.

Texto originalmente publicado em: Diário da Tarde; Caderno Opinião, página 2, 07/01/2006

Deixe seu comentário

Horário Comercial

08:00 – 18:00
Segunda a Sexta

Endereço

Av Afonso Pena, 4000 - 3º andar, Belo Horizonte - MG

Roda de Ideias © 2024.